Gatos e répteis exóticos: a convivência é possível?
Escrito e verificado por o biólogo Samuel Sanchez
Os anfíbios e os répteis são cada vez mais comuns em lares ao redor do mundo, pois ter um terrário em casa é um verdadeiro prazer para muitas pessoas que desejam aprender sobre a biologia de animais exóticos. Feliz ou infelizmente, às vezes já existe um ser vivo em casa quando se pretende introduzir um pequeno vertebrado. Então, surge a seguinte questão: a coexistência entre gatos e répteis exóticos é possível?
A resposta é simples: não. Um gato sempre conceberá um pequeno vertebrado como uma presa em potencial, mas é possível manter esses seres vivos na mesma casa e minimizar seu contato. Aqui vamos contar como evitar que a presença desses animais na sua casa termine em tragédia.
O instinto de caça dos gatos
Os gatos são caçadores ávidos desde o início dos tempos. Os espécimes domésticos são descendentes de felinos solitários que atacavam na selva na calada da noite, então eles têm sentidos aguçados, garras fortes e um corpo extremamente versátil para escalar, espreitar e pular. Não há presa desavisada que possa escapar das habilidades desse mamífero.
Antigamente, os gatos domésticos eram usados para matar pragas em cidades humanas, conforme indicado pela organização International Cat Care. Por isso, os exemplares que hoje vivem em nossas casas são descendentes daqueles que caçavam melhor. Como a seleção genética dessa espécie tem sido bastante limitada, a maioria das raças mantém esse instinto predatório.
Além disso, deve-se notar que os gatos são carnívoros estritos. Isso significa que a grande maioria de sua energia calórica vem de proteínas e gorduras animais. Um gato selvagem que não recebe comida de um humano pode caçar até 20 pequenos vertebrados por dia para suprir suas necessidades.
Como indica a revista Nature, os felinos domésticos e selvagens são responsáveis pela morte de até 4 bilhões de pássaros e 22 bilhões de pequenos mamíferos apenas nos Estados Unidos a cada ano. Sem dúvida, esses dados mostram que a coexistência entre répteis exóticos e um gato doméstico é muito complicada.
É possível a convivência entre um felino e um réptil?
A resposta curta para essa pergunta é simples: não. Um gato pode não atacar uma iguana, uma jiboia ou uma pogona (répteis de tamanho considerável), mas não hesitará em tentar acabar com a vida de uma lagartixa ou um camaleão se tiver oportunidade. O segredo é, como sempre, que o tutor interceda entre as espécies para que seu contato seja mínimo.
O ataque de um gato a um réptil pode não só assustar o animal, como também deixar feridas na pele do pequeno vertebrado, facilitando a entrada de bactérias em seu corpo e a ocorrência de infecções sistêmicas. Siga as recomendações abaixo para evitar que isso aconteça:
- Coloque o terrário do réptil em um local bem alto e livre: os gatos adoram escalar, mas eles são menos propensos a ousar escalar se não conseguirem encontrar um ponto de apoio para se segurar quando estiverem no alto. Tente encontrar um local para que a instalação do seu animal exótico fique no alto e não esteja perto de outros móveis.
- Esconder as fontes de calor: os répteis precisam de um gradiente térmico, por isso é necessário adicionar lâmpadas de aquecimento ou mantas sob o terrário (e sempre por fora). Procure certificar-se de que esses elementos não fiquem à disposição do gato, pois ele subirá na instalação para descansar. Usar um cabo de aquecimento sob a base é uma boa opção.
- Compre um terrário que tenha uma fechadura de segurança: muitos terrários de vidro com aberturas nas laterais aceitam a inserção de uma fechadura com uma chave. Isso tornará virtualmente impossível para o gato ter acesso ao réptil exótico, não importa o quanto ele tente.
Infelizmente, isso não é possível em todos os casos. Alguns répteis requerem instalações de malha que permitem ventilação (como camaleões) e, nesses casos, não há chaves ou fechaduras de segurança que funcionem. Nesse cenário existe apenas uma opção: ter uma sala especial para o terrário e trancá-la sempre que a sair.
É melhor manter o contato ao mínimo. Uma lagartixa-leopardo pode perder a cauda ou morrer de estresse apenas por ficar perto de um gato, apesar de estarem separados pelo vidro.
Os perigos da interação para o gato
Não só o réptil pode se sair mal se a coexistência der errado. Muitos animais exóticos possuem técnicas sofisticadas de defesa para deter predadores e não hesitarão em usá-las se o gato se aproximar deles com más intenções. Por causa disso, o felino pode ser tão prejudicado (ou mais) se as decisões corretas não forem tomadas.
Por exemplo, lagartos-monitores têm garras muito afiadas, e pítons e jiboias (cobras grandes) têm músculos adaptados para o estrangulamento. Outros animais exóticos (como sapos ou salamandras) têm glândulas paratoides que secretam toxinas de periculosidade variada. A maioria desses mecanismos não supõem perigo para os humanos, mas representam perigo para os felinos.
A convivência entre répteis exóticos e um gato doméstico é relativamente possível, mas é preciso ter cuidado com muitas variáveis e minimizar o contato entre eles. Lembre-se de que apenas o estresse de ver um predador tentando atacar pode acabar com a vida de uma lagartixa ou um camaleão, por isso é melhor dedicar um cômodo especial para seus novos animais de estimação.
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- Understanding the hunting behaviour of pet cats: an introduction, International Cat Care. Recogido a 2 de noviembre en https://icatcare.org/understanding-the-hunting-behaviour-of-pet-cats-an-introduction/
- Loss, S. R., Will, T., & Marra, P. P. (2013). The impact of free-ranging domestic cats on wildlife of the United States. Nature communications, 4(1), 1-8.
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