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Golfinhos também podem sofrer de demência

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Segundo uma nova pesquisa, os humanos não são os únicos mamíferos a sofrer de doenças degenerativas do sistema nervoso central.
Golfinhos também podem sofrer de demência
Sebastian Ramirez Ocampo

Escrito e verificado por veterinário e zootécnico Sebastian Ramirez Ocampo

Última atualização: 17 março, 2023

Considerado um dos animais mais inteligentes do planeta, os golfinhos são uma espécie de cetáceos dentados com características muito especiais. Eles habitam as águas dos oceanos Atlântico e Pacífico, com grande adaptação tanto a climas tropicais quanto a ambientes gelados. E são reconhecidos principalmente por sua grande astúcia e aprendizado rápido, bem como por sua capacidade de sentir emoções complexas como os humanos.

Até recentemente, acreditava-se que o Homo sapiens era o único mamífero na Terra a desenvolver doenças degenerativas do sistema nervoso, como Alzheimer ou demência. No entanto, pesquisas recentes sugeriram que os golfinhos também podem ser afetados. Descubra no conteúdo a seguir as descobertas que nos permitiram chegar a essa conclusão.

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O Alzheimer e sua possível manifestação em golfinhos

A doença de Alzheimer é definida como uma degeneração progressiva das células nervosas no cérebro, acompanhada por uma diminuição acentuada da massa cerebral. As pessoas que sofrem com essa doença geralmente apresentam sintomas muito específicos do distúrbio: perda de memória, confusão e demência. Embora sua causa principal não seja clara, fatores genéticos, idade avançada e doenças como diabetes têm sido reconhecidos como fatores de risco para o seu desenvolvimento.

Na natureza dos golfinhos, assim como ocorre com outros animais marinhos, ocorre o fenômeno do encalhe. Isso ocorre quando uma dessas espécies nada em águas rasas, ficando encalhada ou presa na costa. Embora a maioria dos cetáceos tenha um incrível sistema de orientação conhecido como ecolocalização, mais de 2.000 mamíferos marinhos, como golfinhos e baleias, morrem a cada ano por causa disso.

Por que isso acontece?

Segundo vários especialistas, os sons emitidos por navios de combate e barcos de pesca podem interferir nos processos de ecolocalização e localização desses animais, fazendo com que eles se percam. No entanto, um estudo publicado na revista científica European Journal of Neuroscience sugeriu que outra causa de encalhe em golfinhos é a degeneração do sistema nervoso central.

Nessa pesquisa, em que foram analisados os cérebros de 22 cetáceos das espécies golfinho-de-risso, baleia-piloto-de-nadadeira-longa, boto, golfinho-de-bico-branco e golfinho-roaz, foram encontradas algumas alterações cerebrais associadas à doença de Alzheimer. Da mesma forma, deve-se notar que a maioria desses animais era de idade avançada. Além disso, eles morreram porque ficaram presos na costa da Suécia.

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Os sinais de distúrbios neurológicos em golfinhos

Por um lado, ao examinar detalhadamente o cérebro de cada um desses animais, foram encontradas placas de beta-amilóide no tecido nervoso. Esse peptídeo, que em condições normais desempenha um papel fundamental na transmissão de informações entre os neurônios, tende a se acumular de forma anormal nas células nervosas em distúrbios neurológicos como o mal de Alzheimer. Tal fenômeno, além de gerar uma conexão incorreta entre os neurônios, provoca sua degeneração e morte.

Por outro lado, também foi constatado o acúmulo de outra proteína, chamada tau, nos neurônios. Ela está relacionada a degeneração e formação de emaranhados neurofibrilares que afetam o bom funcionamento do sistema nervoso central. Além disso, foi detectado um número anormal de células gliais, como astrócitos e micróglia, fator associado a processos inflamatórios no cérebro.

Por fim, outro documento chamado Bases moleculares de la enfermedad de Alzheimer en el delfín (Bases moleculares da doença de Alzheimer em golfinhos, em tradução livre) indicou que esses mamíferos expressam as proteínas mais diretamente envolvidas na formação das placas beta-amilóides, de forma semelhante ao que ocorre em humanos.

Como a demência e os encalhes em massa estão relacionados

Embora você possa pensar que todos os golfinhos que morrem na costa sofriam de algum tipo de demência, a realidade pode ser outra. Por um lado, essa espécie particular de cetáceo tem um comportamento gregário, ou seja, vive em grupos de até 30 ou mais indivíduos. Além disso, existe uma certa hierarquia em suas relações sociais, por isso existe um líder que guia toda a matilha.

Levando em consideração que esse indivíduo é geralmente o mais experiente e o mais velho, pode ser o mais propenso a sofrer degenerações do sistema nervoso central devido à idade avançada. De acordo com essa teoria, é possível que o líder manifeste algum tipo de demência e guie incorretamente os demais golfinhos. Desta forma, os animais encalham nas costas de diferentes territórios.

O que humanos e golfinhos compartilham?

Como os humanos, os golfinhos têm uma expectativa de vida mais longa do que outros mamíferos. De fato, espécies como o golfinho-riscado podem viver até 60 anos. De acordo com o exposto anteriormente, um estudo publicado na revista Alzheimer’s and Dementia sugere que os golfinhos podem ser mais propensos ao desenvolvimento de certas doenças, como Alzheimer ou demência, devido à sua longevidade.

Da mesma forma, em ambas as espécies, golfinhos e humanos, podem ocorrer alterações no funcionamento normal do hormônio insulina. Consequentemente, tanto o golfinho quanto o ser humano correm risco de diabetes, fator de risco para a manifestação desses distúrbios do sistema nervoso central.

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Por fim, apesar de todas as descobertas que sugerem que os golfinhos podem sofrer de algum tipo de demência, são necessários estudos futuros para entender como essas alterações neuronais realmente influenciam o comportamento desses cetáceos. Pois, apesar de manifestarem lesões semelhantes às encontradas em humanos, as doenças podem se desenvolver de forma completamente diferente nos golfinhos.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


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