Mutualismo em biologia
Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez
O grande número de espécies que existem na natureza torna quase obrigatório o relacionamento. Com o tempo, algumas dessas interações ficam tão próximas que se tornam essenciais para a sobrevivência. Dentro da biologia, isso é chamado de simbiose e, de acordo com seu mecanismo, pode ser dividido em mutualismo, comensalismo, predação, parasitismo e amensalismo.
Especificamente, o mutualismo se refere a um vínculo entre duas espécies no qual ambas recebem benefícios indispensáveis para sua existência. Essas relações positivas têm um grande efeito sobre os organismos e o ecossistema, pois é mais um fator que produz a especiação. Continue lendo este artigo para aprender mais sobre mutualismo, sua definição e alguns exemplos em biologia.
O que é o mutualismo em biologia?
Como já mencionado, no mutualismo ocorre a interação de duas espécies distintas que se beneficiam mutuamente. Embora possa parecer uma ajuda desinteressada, a realidade é que funciona mais como um trabalho pelo qual são “pagos” com recursos diversos. Dessa forma, os organismos podem obter alimento, abrigo ou ajuda da outra parte.
Cada organismo troca um serviço ou recurso para receber outro da outra parte. Essa estratégia é eficiente, pois é mais fácil enfrentar o ambiente em dupla do que cada um por si. Assim, com o passar do tempo, as espécies passam a depender tanto umas das outras que sua aparência e adaptações mudam, o que provoca um processo conhecido como coevolução.
O mutualismo é mais um ingrediente do complexo mecanismo evolutivo, por isso é fundamental do ponto de vista biológico. Na verdade, acredita-se que essa relação tenha sido crucial para a origem da célula eucariótica. Portanto, sem ela a vida não poderia ser como é concebida atualmente.
O desgaste do mutualismo
É importante observar que todos os organismos envolvidos no mutualismo buscam obter algo em troca. De outra perspectiva, não são seres altruístas que abnegadamente fornecem recursos. Embora essa relação seja positiva, eles não a realizam com o objetivo de ajudar, e sim recorrem a outros indivíduos para garantir a própria sobrevivência.
Pode parecer muito duro, mas na natureza não existem espécies boas ou más, são apenas seres vivos que buscam sobreviver mais um dia. Portanto, eles usarão a estratégia mais eficiente que acarreta o menor gasto de energia.
Embora pareça estranho, manter uma relação de predador e presa envolve um gasto constante de energia, já que estar em uma guerra contínua é algo difícil de suportar. Ao contrário, o mutualismo é como assinar um “contrato de paz” no qual você descansa e obtém benefícios. Por esse motivo, essa interação é muito favorável para os organismos.
Qual é a diferença entre mutualismo e simbiose em biologia?
A simbiose é definida como uma relação muito próxima entre duas espécies diferentes. Por sua vez, o mutualismo em biologia é um tipo de relação simbiótica que envolve um benefício para cada organismo. Em outras palavras, o mutualismo explica como a interação ocorre e os tipos de recursos envolvidos.
Tipos de mutualismos
Como a relação mutualística afetou mais espécies, começaram a surgir pequenas variações nessa interação benéfica. Graças a isso, hoje você pode encontrar vários subtipos de mutualismo que se dividem em duas classificações principais.
A primeira classificação refere-se à dependência do organismo com essa relação:
- Mutualismo facultativo: essa relação mantém os mesmos benefícios para ambos os indivíduos, mas a interação não é necessária para sua sobrevivência. Em outras palavras, eles têm o poder de decidir se realizam ou não o mutualismo, uma vez que não dependem da outra espécie.
- Mutualismo forçado: nesse caso, a relação é tão profunda que, para sobreviver, os espécimes têm que estar relacionados com as outras espécies. Se um dos dois organismos vier a faltar, o outro não conseguirá lidar com o meio ambiente, então eles são codependentes da interação.
Da mesma forma, também existe uma classificação que leva em consideração o recurso obtido na relação. Dessa forma, mais 3 subtipos de mutualismo podem ser encontrados:
- Mutualismo defensivo: em que o benefício obtido é abrigo ou defesa contra predadores.
- Mutualismo trófico: pelo qual um dos envolvidos recebe alimento ou nutrientes do outro.
- Mutualismo dispersivo: é particular das plantas. Destina-se a dispersar pólen e sementes para auxiliar na reprodução.
Além do exposto, lembre-se de que a classificação depende da abordagem que é dada à interação. Por isso, no mesmo vínculo, uma das espécies pode ser mutualista trófica, enquanto seu parceiro pode ser mutualista defensivo. O ponto principal é o recurso cada espécie recebe, já que seu papel é classificado a partir desse elemento.
Exemplos de mutualismo defensivo
Em uma associação, os benefícios nem sempre precisam ser algo tangível, como os alimentos. Um serviço, como a proteção, também pode ser oferecido. Desse modo, espécies com relação mutualística defensiva “pagam” com alimento ou outro recurso pela proteção fornecida pela outra espécie.
O exemplo perfeito dessa relação é a interação entre as formigas e os pulgões. Nesse vínculo, os afídeos (pulgões) produzem um tipo de substância pegajosa e açucarada que oferecem às formigas como pagamento por sua proteção. Graças a isso, os predadores não podem tocá-los enquanto suas guarda-costas estiverem lá para cuidar deles.
Para ser um pouco mais preciso, essa associação também se enquadra na classificação de mutualismo facultativo. Isso porque a relação não é necessária para a sobrevivência dos organismos, o que implica que eles podem viver por conta própria sem nunca ter essa interação. Lembre-se de que, apesar de serem duas classificações distintas, não são exclusivas e seu uso depende da abordagem que se queira dar a elas.
Exemplos de mutualismo trófico
Esse tipo talvez seja o mais conhecido de todos, pois envolve uma troca de alimentos ou nutrientes. No caso anterior, as formigas são mutualistas tróficas dos pulgões, já que obtêm alimento em troca de sua proteção.
Outro exemplo perfeito é o das micorrizas, que formam uma simbiose mutualística entre as plantas e alguns fungos. Essa relação se dá através das raízes e do micélio, que funcionam como uma espécie de canudo por onde passam diversos nutrientes. Dessa forma, os fungos fornecem minerais e água, enquanto as plantas lhes enviam nutrientes para que se alimentem.
A interação mencionada também é classificada como um mutualismo forçado por parte dos dois membros. Isso significa que tanto as árvores quanto os fungos têm menos probabilidade de sobreviver sem essa relação. Na verdade, mais de 80% das plantas são capazes de fazer essas ligações com os fungos.
Exemplos de mutualismo dispersivo
Esse tipo de mutualismo é comum nas espécies vegetais. Como não podem se mover, elas precisam de outros organismos para dispersar sementes ou pólen para sua reprodução. Os casos mais conhecidos são os das frutas, pois servem como um atrativo natural para que os animais as comam e dispersem suas sementes. Em poucas palavras, são uma isca que permite à planta transportar sua prole.
Outro exemplo desse tipo de mutualismo na biologia são as abelhas, já que esses invertebrados são polinizadores que vão de uma flor a outra em busca de néctar. Esses movimentos beneficiam a fertilização das plantas, ao mesmo tempo que oferecem uma recompensa suculenta ao pequeno inseto voador.
Mutualismo nos humanos?
O ser humano não escapa a esse tipo de interação na natureza, pois mantemos uma relação obrigatória com alguns microrganismos. Nesse sentido, as bactérias que compõem a biota intestinal estão dentro da classificação. Essa interação fornece proteção às colônias de bactérias, ao mesmo tempo que melhora a capacidade de assimilar nutrientes em humanos.
Essa ligação é extremamente importante, pois sem as colônias de bactérias, muitos dos alimentos não poderiam ser bem degradados. Na verdade, essa interação é regulada de tal forma que a alteração mínima em sua população causa sérios problemas à saúde dos seres humanos.
As relações mutualísticas são mecanismos da natureza que garantem a sobrevivência das espécies e que promovem a coexistência graças aos benefícios que proporcionam. Embora pareçam sem importância, esses tipos de interação foram e serão fundamentais para a vida, pois são uma parte essencial do maravilhoso processo evolutivo.
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