O sapo Telmatobius halli, uma espécie redescoberta

Após inúmeras buscas fracassadas, pesquisadores chilenos conseguiram localizar esse misterioso anfíbio endêmico. Sua situação pode exigir ações imediatas de conservação.
O sapo Telmatobius halli, uma espécie redescoberta
Francisco Morata Carramolino

Escrito e verificado por o biólogo Francisco Morata Carramolino.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Na atual crise de biodiversidade, a extinção de espécies é um fenômeno cada vez mais frequente. Felizmente, nem todos os seres vivos que parecem extintos realmente estão. Uma pequena parte deles volta a ser encontrada em buscas exaustivas, décadas após seu desaparecimento. Esse é o caso do sapo Telmatobius halli.

Esse pequeno anfíbio não era visto desde que foi descrito pela ciência, há mais de 80 anos. Uma equipe de zoólogos chilenos anunciou sua redescoberta em um artigo recente, publicado na revista científica Zootaxa.

Essa é uma oportunidade tão rara quanto valiosa, que permitirá aos pesquisadores aprender mais sobre a biologia desse anfíbio e estabelecer medidas que possibilitem sua conservação. Neste espaço, vamos falar sobre a sua descoberta.

Características do sapo Telmatobius halli

O sapo Telmatobius halli é um pequeno anfíbio anuro. O comprimento corporal de sua forma adulta varia entre 4,5 e 7 centímetros, aproximadamente.

A coloração desse animal é bastante discreta. A parte dorsal do corpo e as extremidades são cinza-oliva, enquanto a seção ventral é esbranquiçada com manchas alaranjadas. A superfície do seu corpo é ligeiramente áspera, mas não apresenta as grandes verrugas que caracterizam outros anuros.

A cabeça desse sapo se destaca por seu grande tamanho. Os olhos estão localizados frontalmente, são muito redondos e têm pupilas circulares bastante grandes. Junto com sua boca gigante, isso dá ao animal um aspecto simpático e sorridente. As patas traseiras são ligeiramente palmadas.

Na fase larval, os girinos dessa espécie medem entre 16 e 17 centímetros de comprimento total, embora a cauda represente cerca de 60% desse comprimento. O corpo tem formato ovoide e a cauda é achatada lateralmente.

A coloração do girino é verde e amarela, com pequenos pontos pretos em quase todo o corpo. O ventre é translúcido, esbranquiçado e com manchas acinzentadas. Através da camada dérmica, é possível ver os órgãos internos do animal.

 

Um sapo em uma lagoa.

Ecologia e habitat

No momento, o modo de vida do sapo Telmatobius halli é em grande parte desconhecido, já que nenhum indivíduo da espécie foi observado desde 1935. Embora ainda haja muito a ser descoberto, os autores desse recente estudo, publicado na revista científica Zootaxa, apontam alguns aspectos básicos de sua ecologia.

Os poucos espécimes encontrados habitam apenas Aguas Calientes, uma pequena fonte termal perto de Ollagüe, no Chile. O habitat estimado dessa espécie está reduzido a esse manancial, então ela teria uma área de distribuição de apenas 105 metros quadrados aproximadamente.

A vegetação nessa área é composta por plantas da família das verbenáceas, como Lampaya medicinalis e Acantholippia tarapacana. Na água, é possível encontrar juncos e outras plantas aquáticas, sob as quais os girinos se refugiam. Os adultos, que são muito aquáticos, aprecem nas costas rochosas do manancial.

Outros animais foram detectados nesse local, como outra espécie de sapo, Rhinella spinulosa, e peixes do gênero Orestias. Todos eles compartilham a característica de serem seres vivos eminentemente aquáticos.

Como o sapo Telmatobius halli foi encontrado novamente?

Para localizar esse esquivo anfíbio, os pesquisadores usaram o artigo que originalmente descreveu a espécie, bem como as crônicas escritas sobre a International High Altitude Expedition to Chile (Expedição Internacional em Alta Altitude ao Chile) em 1935.

Essa expedição pretendia estudar os efeitos fisiológicos da altitude no corpo humano, mas também foi responsável pela primeira descrição científica desse animal, e relata as circunstâncias dessa descoberta.

Também foi fundamental a ajuda dos habitantes locais, cujo maior conhecimento de campo e o relacionamento próximo com a fauna local são sempre essenciais nesses casos. Depois de várias viagens pela região, que os levaram a descobrir outras espécies de anfíbios, os pesquisadores conseguiram encontrar esse sapo em 2015.

A importância dessa redescoberta

O sapo Telmatobius halli foi redescoberto, mas não há apenas boas notícias. Apenas 6 espécimes dessa espécie foram encontrados, 3 adultos e 3 girinos. Além disso, sua única localização é muito pequena, vulnerável e altamente degradada pela pressão humana.

Embora tenham sobrevivido até hoje, é possível que esses sapos sejam um microendemismo, uma espécie que só existe naquele pequeno ponto do mundo, e que sua população esteja severamente reduzida.

A região é utilizada para fins recreativos e turísticos, o que tem perturbado em grande medida seu ecossistema. As águas do manancial foram desviadas para encher uma piscina artificial, que foi construída ao lado do manancial. Existe também uma área de camping, com espaços cobertos destinados à realização de refeições.

Além do turismo, outras ameaças à espécie são a mineração, a agricultura e outras atividades que podem alterar ou secar o manancial. Sem essa água, os sapos não poderão sobreviver, pois não existem outros locais próximos que sejam adequados para eles.

Portanto, sua redescoberta oferece uma oportunidade excepcional para estudar a espécie e implementar medidas urgentes de conservação, antes que a espécie desapareça do planeta.

 

Um sapo em risco de extinção.

No momento, o conhecimento científico sobre essa espécie é tão escassa que é considerada “com dados deficientes” pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN), mas sua classificação pode mudar para “em perigo crítico” após novas pesquisas. É fundamental conservar esse pequeno animal, único no planeta.


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