Segredos da transparência das rãs-de-vidro

Escrito e verificado por a psicóloga Sara González Juárez

Última atualização: 14 abril, 2023

A transparência das rãs-de-vidro é uma das formas mais fascinantes de crípse da natureza. Poderia ser considerada a forma mais próxima da invisibilidade que um animal poderia adquirir para se defender de predadores.

No entanto, como elas conseguem fazer isso? Aqui você encontrará respostas para essas perguntas. Não perca nada, porque é um processo mais complicado do que parece e acarreta certas dificuldades que ainda não foram totalmente explicadas. Vamos lá.

A família Centrolenidae, as rãs-de-vidro

Em primeiro lugar, vamos conhecer os anuros chamados rãs-de-vidro, agrupados na família dos centrolenídeos. Esses anfíbios, geralmente de cor verde, têm a pele translúcida na parte inferior e são capazes de ganhar transparência no dorso também durante o dia.

Nas florestas tropicais da América Central e do Sul, onde vive esse sapo, o verde brilhante é abundante nas folhas das árvores e arbustos, no solo e até na vegetação que pende dos riachos. Essas folhas são o melhor refúgio para as rãs-de-vidro, cujos hábitos noturnos as obrigam a se camuflar grudando na superfície durante o dia.

No entanto, os pesquisadores sempre se perguntaram como esses anuros conseguem aumentar a transparência de sua pele. E não só isso. Uma das questões mais difíceis era a seguinte: onde fica o seu sistema circulatório? Por que apenas seus órgãos internos são visíveis? Bem, o estudo que detalharemos a seguir encontrou a resposta para esse mistério.

A transparência das rãs-de-vidro expostas

Uma equipe de cientistas descobriu como as rãs se fundiam ao ambiente tornando-se transparentes. Em um artigo publicado, eles afirmam que esse processo é alcançado graças à mobilização do sangue para um local muito específico do corpo, o fígado.

Parte da opacidade dos corpos dos animais se deve à hemoglobina, proteína que tinge de vermelho o hematócrito e dá essa mesma cor ao sangue. Os tecidos, por sua vez, estão repletos de outras substâncias que refletem a luz, tornando-os visíveis. Não é o caso das rãs-de-vidro, que praticamente não projetam sombra quando em repouso, transparentes, presas às folhas.

No entanto, existe uma técnica bastante adequada para estudar esse fenômeno, a microscopia fotoacústica. Quando a luz é absorvida pelos pigmentos da pele, parte dela gera calor, o que altera a pressão do ar ao seu redor, criando ondas. Então, tecnicamente, você pode “ouvir a luz” com essa técnica.

Os resultados da microscopia acústica

O que a microscopia acústica revelou foi incrível. Parte da transparência das rãs-de-vidro se deve, como já foi dito, ao fato de o anuro mobilizar praticamente todo o seu sangue em direção ao fígado, onde se acumula até acordar. Os cientistas só perceberam isso quando puderam estudá-las em cativeiro e durante o dia.

Os sapos adormecidos tinham 96,6% menos hemoglobina no sangue do que no estado de vigília.

Assim, vistos de cima, eles ficam quase perfeitamente camuflados na folha, mas as fotos tiradas de baixo mostram uma rã que parece esculpida em vidro. As veias não são visíveis e os órgãos se distinguem esbranquiçados, como se estivessem secos.

É possível viver sem sangue no corpo?

É claro que essa forma de crípse dinâmica é fascinante e única por natureza. De fato, outros animais transparentes, como o krill ou algumas espécies de vermes, deixam de ser transparentes fora da água e nenhum deles modifica o fluxo de seu sistema circulatório.

No entanto, aqui há mais perguntas do que respostas: como uma rã-de-vidro sobrevive um dia inteiro sem sangue no corpo? Por que o acúmulo de sangue no fígado não produz coágulos? Na verdade, parece uma condição que deveria matar o animal, mas ao cair da noite, a rã-de-vidro fica com uma tonalidade quase marrom-esverdeada quando seu fluxo sanguíneo é restaurado. E então ela pula de sua folha para encontrar comida.

A transparência das rãs-de-vidro e o futuro da hematologia

Os mecanismos que regulam essa estratégia de camuflagem permanecem, portanto, ocultos ao conhecimento humano. Embora já estejam a pensar como aplicar os resultados futuros à hematologia humana, a verdade é que a maior questão nesse momento é como é que essa família de anuros consegue “tirar o sangue do caminho” para se tornar invisível aos seus predadores.

O que está claro é que não há canto da natureza que não exceda as expectativas mais fantasiosas da imaginação humana. Neste episódio descobrimos alguns segredos da invisibilidade, mas o que resta para descobrir?