O que é a teoria do forrageamento ótimo?

Na natureza, os animais encontram um equilíbrio entre esforço e comida. Isso é conhecido como a teoria do forrageamento ótimo.
O que é a teoria do forrageamento ótimo?
Miguel Mata Gallego

Escrito e verificado por o biólogo Miguel Mata Gallego.

Última atualização: 11 fevereiro, 2023

A teoria do forrageamento ótimo é um modelo que prevê a melhor maneira pela qual os animais devem se alimentar para não gastar muita energia e tempo no processo. Definido de outra perspectiva, é um mecanismo natural baseado na maximização de recursos em um espaço limitado.

Em que se baseia este modelo? De quais fatores depende? É igual para todos os animais? Responderemos a todas essas perguntas e muitas outras nas linhas a seguir.

O modelo que prevê a alimentação do animal

O modelo que prevê o comportamento de um animal na busca por alimento é conhecido como teoria do forrageamento ótimo (OFT). Evolutivamente, os seres vivos desenvolvem adaptações que lhes permitem sobreviver. Esses mecanismos não se baseiam apenas em modelos anatômicos —asas, mãos ou garras—, mas também em padrões de comportamento.

Como todos sabemos, a obtenção de alimentos fornece a energia necessária para as atividades realizadas pelos animais: mover-se, reproduzir-se e conviver com tudo o que isso implica, em suma. No entanto, a busca e obtenção de alimentos é uma das atividades que mais consomem energia.

Portanto, é lógico pensar que o animal estará interessado em obter alimento suficiente para realizar suas atividades, mas sem gastar muito tempo ou energia durante a atividade. Isso porque também precisa se reproduzir e escapar de possíveis predadores.

A teoria do forrageamento ideal — do inglês foraging, busca por alimento — é o modelo responsável por prever essa dieta ideal. Ou seja, calcula o equilíbrio que os animais devem encontrar entre o custo e o benefício da busca por alimentos.

Um mamífero que forrageia no chão.

A luta entre energia e tempo

Em geral, os pesquisadores dividem o intervalo de tempo utilizado pelo ser vivo durante sua manutenção alimentar em tempo de busca e tempo de manejo. O tempo de manejo inclui atividades como caçar presas ou o tempo que o animal leva para ingerir matéria orgânica.

Assim, podemos imaginar o modelo como uma “luta” entre os tempos de busca e manejo e a energia obtida pelo alimento. A relação entre energia e tempo deve ser a mais equilibrada possível para que esse alimento seja consumido.

Portanto, faz sentido que uma onça não se alimente de moscas. Ela gastaria mais energia caçando-as do que para digeri-las.

Fatores que afetam o modelo de forrageamento ideal

O modelo de forrageamento ideal é composto de várias equações complexas. Embora não pretendamos nos aprofundar na complexidade do padrão matemático, listaremos a seguir uma série de fatores que o condicionam.

A dispersão dos alimentos

Para muitos animais, uma dieta que envolve a mudança de um lugar para outro não é a mesma que envolve ficar em um lugar por muito tempo. Assim, o tempo de viagem é um fator fundamental para os seres vivos na hora de escolher uma dieta.

Como exemplo, podemos pensar na alimentação de uma ave granívora, como o pintassilgo. Para esta ave, há uma grande diferença entre uma grande floresta com árvores muito próximas e um enorme prado com algumas plantas espalhadas: neste último caso, o custo energético da alimentação é muito maior.

De fato, existe uma teoria chamada “Teorema do Valor Marginal”, que propõe o seguinte postulado: o tempo ótimo de deslocamento de um lugar para outro é proporcional à dieta adequada do animal.

A qualidade da comida

Muitos animais podem rejeitar certos locais de alimentação se a qualidade do alimento for ruim. Isso geralmente ocorre porque, se o alimento é de baixa qualidade, não atende às suas demandas energéticas e não vale a pena nutrir com base nele.

Por exemplo, podemos pensar em um grande predador como o guepardo. Há uma grande diferença entre presas grandes – como gnus – e o valor nutricional de uma dieta baseada em pequenos mamíferos ou carniça.

Embora a caça aos gnus seja mais difícil, a quantidade e a qualidade dos alimentos mais do que compensam o esforço anterior. Assim, a teoria de forrageamento ótimo também pode ser usada para prever a seleção de presas em grupos de predadores.

Essa teoria é a mesma para todos os animais?

A teoria de forrageamento ideal é um bom preditor de como os animais forrageiam. Vamos mais longe, pois esse modelo pode decifrar se uma espécie terá um modo de vida generalista ou especialista. Explicamos mais detalhadamente a seguir.

Em uma espécie especialista —como o lince-ibérico—, o tempo de busca de presas é relativamente curto. Assim, compensa caçar sempre a mesma presa, neste caso o coelho. Ao fazer isso, ele se especializará em um único tipo de vítima e se alimentará com mais eficiência a cada vez.

Por outro lado, os grupos generalistas se alimentam de uma grande variedade de alimentos diferentes. É o caso do rato-comum, por exemplo. Para este tipo de espécie, o custo de procurar uma única fonte de alimento é maior do que o de se alimentar de recursos variados. Assim, baseia sua dieta em várias sementes, grãos e plantas.

Girafas e teoria de forrageamento ideal.

Em conclusão, podemos dizer que a teoria do forrageamento ótimo permite que zoólogos e ecologistas prevejam facilmente o comportamento alimentar de um animal em seu ambiente natural, sua escolha de presas e até mesmo se é generalista ou especialista. Claro, a natureza é governada por números com incrível precisão.


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