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Descubra a ilha das cobras

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A ilha das cobras é um laboratório da natureza, onde a adaptação entre matar ou morrer é palpável. Esse local encerra um experimento evolutivo incrivelmente interessante.
Descubra a ilha das cobras
Luz Eduviges Thomas-Romero

Escrito e verificado por a bioquímica Luz Eduviges Thomas-Romero

Última atualização: 27 dezembro, 2022

Uma ilha insólita está localizada perto do litoral brasileiro, a apenas 33 quilômetros de São Paulo. É a ilha da Queimada Grande, também conhecida como a ilha das cobras.

Essa ilha, que tem cerca de 42 hectares de área e não é habitada por seres humanos, por uma razão muito boa. Os pesquisadores estimam que na ilha da Queimada Grande vive uma cobra por metro quadrado de território.

O inquilino mortal da ilha das cobras

Entre as cobras de Queimada Grande está uma espécie endêmica, a Bothrops insularis. Essa espécie vive exclusivamente nessa ilha, tem cor dourada e é conhecida como jararaca-ilhoa.

Considera-se que a Bothrops insularis é uma das espécies de cobra mais venenosa do mundo. Seu veneno pode ser cinco vezes mais potente que o de qualquer outra cobra. No Brasil, segundo o registro de óbitos por picada de cobra, 90% dos óbitos são devidos ao veneno de répteis dessa família, semelhantes à Bothrops insularis.

O veneno age rapidamente. A picada dessas cobras pode matar um adulto em menos de uma hora. Esse veneno possui componentes que induzem a necrose da pele ao redor da picada, causam insuficiência renal, hemorragia cerebral e sangramento intestinal.

Um estudo de 2014 determinou que a população dessa espécie em particular varia entre 2000 e 4000 exemplares, os quais estão concentrados na parte da ilha que possui floresta tropical semiarbórea.

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De onde vêm essas cobras?

Mais de 11 000 anos atrás, o território da ilhota estava conectado ao continente. Naquela época, o nível do mar subiu, formando a ilha, e as cobras residentes ficaram presas lá.

De repente, a fonte de comida ficou escassa e elas se tornaram dependentes dos pássaros. Tendo em vista suas presas voadoras, essas cobras evoluíram e desenvolveram toxinas poderosas e de ação rápida para matar suas presas.

As aves locais, atentas ao perigo existente, evitam visitar a ilha. As cobras caçam e comem as maiores aves migratórias que, despreparadas, chegam à ilha em busca de descanso. O fato de não haver predadores nesse habitat pode ter contribuído para o aumento da população de cobras.

Acesso proibido à ilha das cobras

A ilha não possui residentes humanos, exceto a visita ocasional de algumas equipes de cientistas. As cobras são tão perigosas que o governo brasileiro proibiu expressamente qualquer um de entrar na ilha. Esse regulamento visa proteger a integridade das pessoas e das cobras.

Cobras salvadoras

Ironicamente, as temidas jararacas-ilhoa também desempenham um papel crucial em salvar vidas de seres humanos. Primeiramente, a obtenção do seu veneno é feita para a produção de um antídoto. Contudo, o veneno dessa cobra também tem sido usado no desenvolvimento de medicamentos que salvam vidas e pode contribuir para o desenvolvimento de novos remédios no futuro.

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Fonte: www.antenasanluis.mx

Como relatam cientistas do Instituto Brasileiro Butantan, seu veneno pode conter componentes úteis para o tratamento de todos os tipos de doenças humanas. Até o momento, os especialistas desse instituto mostraram componentes com potencial para contribuir para o tratamento de coágulos sanguíneos, problemas de circulação e doenças cardíacas.

Existe um medicamento para pressão arterial – captopril – que foi desenvolvido há 40 anos a partir do veneno dessas cobras. Esse medicamento é incrivelmente popular e ainda hoje é amplamente utilizado.

Como encontrar a jararaca-ilhoa

Visto que essa espécie temível não pode ser visitada em seu habitat natural, é possível encontrá-la no Brasil continental em cativeiro. Para isso, o visitante tem três opções: as jararacas-ilhoa podem ser vistas legalmente no Serpentário do Instituto Butantan, em São Paulo. Como alternativa, você pode ir ao zoológico de São Paulo. Na casa das cobras, você encontrará um recinto quem abriga cinco espécimes adultas da jararaca-ilhoa.

Por fim, sua última opção é ir ao zoológico municipal de Quinzinho de Barros, na cidade de Sorocaba, estado de São Paulo. Lá você pode ver essas cobras especiais vivendo calmamente na casa dos répteis.

Embora a ilha das cobras esteja longe da idílica ilha caribenha para humanos, devemos lembrar que também não é um paraíso para as cobras. Desde que a ilha foi formada, os répteis residentes lutaram por comida, e a sua estratégia de desenvolver um veneno superpoderoso é um esforço para se adaptar.

A luta dessa cobra tem sido longa, e até hoje sua espécie está criticamente ameaçada.


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