Formigas-do-estalo: habitat e características
Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez
As formigas são um dos insetos mais bem adaptados que existem, pois podem ser encontradas em quase todos os continentes do mundo. Embora geralmente sejam bem pequenas, alguns exemplares chegam a apresentar mecanismos incríveis de caça. Um exemplo disso são as formigas-do-estalo, que têm uma boca que funciona como uma mola poderosa.
As formigas que possuem essas estruturas modificadas da boca pertencem ao gênero Odontomachus. Esse grupo faz parte da subfamília Ponerinae, que também inclui as formigas gigantes da Amazônia e muitas outras espécies com mandíbulas e ferrões poderosos. Continue lendo e aprenda um pouco mais sobre essas incríveis formigas.
Onde vivem as formigas-do-estalo?
Essas formigas vivem nas regiões tropicais de vários países, mas são muito mais diversificadas na Ásia. Portanto, elas preferem viver em florestas temperadas, onde existe uma grande quantidade de umidade e uma variedade de presas. Além disso, aproveitam solos úmidos, serapilheira ou galhos de árvores para instalar seus ninhos.
Como são as formigas-do-estalo?
Essas formigas estão entre as maiores que existem, pois têm entre 4 e 20 milímetros de comprimento. Como muitos outros insetos, o corpo desses espécimes é dividido em 3 seções diferentes: cabeça, tórax e abdômen. As duas últimas partes apresentam a típica “cintura de vespa” como ponto de união, que é uma característica distintiva dos himenópteros.
A principal característica desses organismos são suas mandíbulas gigantescas, dentadas e em forma de pinça. Esses insetos as utilizam como se fossem uma espécie de armadilha, pois são capazes de fechar essa estrutura em apenas 0,1 microssegundo. Graças a isso, elas contam com uma ferramenta letal rápida para caçar suas presas.
Embora possa não parecer, o mecanismo dessa estrutura é bastante complexo, uma vez que “pelos” sensíveis se encarregam de ativar a armadilha. As formigas-do-estalo abrem suas enormes “pinças” em 180 graus e esperam que a presa toque nos pelos. O movimento de fechamento é tão rápido que a vítima não consegue reagir, o que garante uma caça perfeita à predadora.
As castas das formigas-do-estalo
Como a maioria dos formicídeos, as formigas-do-estalo apresentam várias castas em seu formigueiro. Cada uma delas apresenta características diferentes, pois se especializam em realizar determinadas tarefas para a colônia. De fato, pode-se dizer que cada indivíduo no formigueiro tem uma função definida desde o nascimento:
- Operárias: são as responsáveis pela caça, coleta de alimentos e defesa do ninho, razão pela qual essa casta possui mandíbulas com armadilhas. Em algumas espécies, as operárias são capazes de pôr ovos e servir como rainhas substitutas quando a matriarca principal morre.
- Machos (alados ou não): são os copuladores do formigueiro e se acasalam com as rainhas para fertilizá-las e produzir ovos férteis. Essa casta nasce de ovos não férteis e só está presente na estação reprodutiva do formigueiro.
- Rainha (alada ou não alada): é a principal reprodutora do ninho e é responsável por produzir todas as demais castas. Nessas espécies, a rainha também contribui para a coleta de alimentos e a caça, por isso pode apresentar mandíbulas com armadilhas.
- Rainhas não fertilizadas ou princesas virgens (aladas ou não): essas rainhas são responsáveis por formar novas colônias, mas precisam ser fecundadas por machos e migrar para um novo local. Essa casta está presente apenas durante a estação reprodutiva do formigueiro.
O que as formigas-do-estalo comem?
Esses formicídeos são considerados generalistas, pois são capazes de se alimentar de uma ampla variedade de organismos. De acordo com um artigo publicado na revista científica Annals of the Entomological Society of America, essa flexibilidade permite que eles se adaptem às mudanças sazonais do ano.
Em outras palavras, as formigas mudam sua dieta a cada temporada para garantir que haja presas suficientes e que não faltem recursos. Como resultado, elas se alimentam de uma grande variedade de pequenos artrópodes, frutas, sementes e néctar.
Como elas caçam?
Para começar, as formigas-do-estalo abrem suas mandíbulas em 180 graus para ativar seu mecanismo. Uma vez que a posição de sua estrutura oral é fixada, elas começam a avançar enquanto exploram o terreno com suas antenas. Durante a caça, os músculos desse inseto permanecem prontos para fechar as pinças, o que ocorre apenas quando os pelos de sua mandíbula são estimulados.
Assim, a formiga garante que a armadilha seja ativada apenas quando um inseto aparecer à sua frente. Caso contrário, o mecanismo permanece pronto para agir a qualquer momento. Tudo isso não garante a captura de sua vítima, pois em poucos casos ele consegue escapar. Contudo, se isso acontecer, a formiga não é ferida, pois sua mandíbula para antes de colidir contra sua peça análoga.
Existem outros tipos de formigas-do-estalo?
Embora pareça uma característica única, essas mandíbulas em forma de armadilha estão presentes em outros grupos taxonômicos. Por isso, o gênero Odontomachus não é o único que pode conter formigas desse estilo. Alguns exemplos disso são os seguintes gêneros:
- Anochetus: esse é o grupo mais próximo das Odontomachus e ambos pertencem à mesma subfamília (Ponerinae). Na verdade, a única diferença entre eles é o formato de sua cabeça, já que as mandíbulas mantêm o mesmo mecanismo, mas com discretas e pouco perceptíveis distinções em sua forma.
- Myrmoteras: esses organismos possuem um mecanismo de armadilha da mandíbula muito semelhante ao de Anochetus e Odontomachus. No entanto, seu grupo não está relacionado a nenhum deles. Ao contrário dos anteriores, sua mandíbula tem dentes bem evidentes, enquanto o mecanismo é ativado por meio de um longo “cabelo” sensível que fica bem no centro.
- Strumigenys: esse grupo obteve suas mandíbulas com armadilha de forma independente, pois não está relacionado aos táxons anteriores. Por esse motivo, a estrutura da boca é mais parecida com um “fórceps” do que com uma pinça. Além disso, o tamanho da mandíbula é geralmente menor do que o de outras formigas.
As mandíbulas servem mais mais do que apenas para caçar
Embora a principal função das mandíbulas da formiga-do-estalo seja a caça, elas desenvolveram estratégias para conseguir usá-las de outras maneiras. Algumas utilidades que essa incrível estrutura possui são as seguintes:
- Cavar: por ser bastante comprida, a mandíbula funciona perfeitamente como uma pá, de modo que esses insetos podem cavar túneis no formigueiro rapidamente.
- Defesa: mesmo que o inimigo não caia na armadilha, a força com que as poderosas pinças são fechadas causa uma onda de choque que pode jogar os intrusos para longe. Dessa forma, elas usam a mandíbula como uma pistola de ar que afasta qualquer invasor.
- Fuga: quando a formiga está em perigo iminente, ela usa essa poderosa pistola de ar ao contrário, pois assim consegue pular para longe da ameaça.
- Cuidar dos ovos: embora a estrutura oral geralmente seja capaz de destruir e cortar insetos inteiros, ela também pode ser usada como uma pinça delicada. Graças a isso, as operárias conseguem cuidar dos ovos da colônia sem o perigo de esmagá-los acidentalmente.
Predadores que também são presas
É provável que, à primeira vista, essas formigas pareçam invencíveis, pois possuem uma poderosa arma letal. Mas nem tudo é tão fácil na natureza, pois até esses organismos incríveis têm predadores bem adaptados para caçá-los.
O caçador favorito de algumas dessas espécies é conhecido como Formica archboldi, outra espécie de formiga que se camufla para pegar sua presa. Para isso, usa o mesmo “cheiro” da formiga-do-estalo, conseguindo se infiltrar, ganhar sua confiança e devorá-la quando ela se descuida.
Como se não bastasse, esse predador não só acaba com a vida de sua inocente vítima, como também usa partes de seu corpo para decorar seu ninho. Apesar de sua aparência feroz, as formigas-do-estalo não podem fazer muito contra seu incrível predador.
As formigas são um dos insetos com mais variedade a nível morfológico, o que as torna fascinantes. As formigas-do-estalo não são exceção, sua grande velocidade e força as tornam armas extremamente letais. No final, mesmo os menores animais podem exibir estruturas incríveis e complexas.
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