As lagartas são consideradas vermes?

As lagartas e os vermes compartilham muitas características, mas você sabe se são exatamente a mesma coisa? Aqui vamos trazer as respostas.
As lagartas são consideradas vermes?
Samuel Sanchez

Escrito e verificado por o biólogo Samuel Sanchez.

Última atualização: 21 dezembro, 2022

As lagartas são consideradas vermes? Essa pergunta parece irrelevante a princípio, mas a realidade é que pode fazer a diferença entre um apenas contato pegajoso e uma visita rápida ao pronto-socorro. De fato, algumas lagartas são venenosas e com seus pelos urticantes são capazes de causar reações locais sérias em humanos. Será que se pode dizer a mesma coisa no caso dos vermes?

Vermiforme, alongado e muitos outros adjetivos fazem referência a um imenso grupo de invertebrados, todos com corpos cilíndricos que rastejam ao longo do fundo do mar ou no solo terrestre. Quais são as diferenças entre um verme e uma lagarta? Nesta oportunidade, vamos trazer a resposta baseada no conhecimento científico e genético.

O que são os vermes e as lagartas?

Para a população em geral, o termo “verme” se refere a qualquer invertebrado alongado com hábitos de vida que incluem viver no subsolo ou em sua superfície. Em qualquer caso, a classificação taxonômica dos seres vivos pode não estar totalmente de acordo com essa acepção. Em seguida, vamos explorar cada grupo separadamente.

Vermes

De acordo com o Dicionário Oxford Languages, verme é qualquer animal invertebrado com corpo achatado ou cilíndrico, macio, alongado, contrátil e sem membros. Essa designação carece de interesse taxonômico, uma vez que abrange um grupo de seres vivos muito distantes geneticamente.

O termo “verme” vem da palavra vermes, cunhada por Carl Linnaeus e Jean-Baptiste Lamarck na obra Systema Naturae, publicada pela primeira vez em 1735. Essa classificação agora obsoleta abrangia todos os invertebrados vermiformes que não eram artrópodes, incluindo lesmas, nematoides, e muitos outros seres vivos.

Hoje em dia, a classificação que nos interessa aqui foi um pouco mais aperfeiçoada, mas ainda é polifilética. Isso significa que inclui milhares de espécies sem qualquer relação direta e, portanto, carece de interesse científico. Em um nível geral, os seguintes grupos de invertebrados são considerados vermes:

  • Platelmintos: são um filo de invertebrados simples, bilaterais e não segmentados. Não possuem órgãos respiratórios ou circulatórios específicos e, por isso, são considerados “basais” em termos de evolução. Alguns são parasitas e outros de vida livre, mas estão associados a ambientes úmidos de água salgada ou doce, embora também existam espécies terrestres.
  • Nematoides: ao contrário dos platelmintos, os nematoides têm um sistema digestivo tubular com aberturas em ambas as extremidades (boca e ânus). Alguns dos parasitas humanos mais comuns (como Ascaris e Anisakis) são classificados nesse grupo.
  • Anelídeos: os anelídeos são animais muito mais evoluídos do que os anteriores, pois possuem sistema nervoso, circulatório, digestivo e até respiratório (às vezes em forma de guelras). Esses invertebrados são segmentados e podem colonizar ambientes terrestres e aquáticos. As famosas minhocas estão nesse grupo.

Além dessa classificação, outros autores argumentam que onicóforos, priapulídeos e até larvas de insetos poderiam ser agrupados sob a denominação de “vermes”. Em todo caso, pode-se dizer que a norma é o que está especificado na lista.

 

Lagartas

O termo “lagarta” implica muito menos dores de cabeça, pois se refere apenas a todas as larvas de insetos da ordem Lepidoptera. Simplificando, todo estágio larval de uma borboleta ou mariposa é uma lagarta, independentemente de seu formato e tamanho.

Todos esses insetos apresentam uma formação corporal comum: são divididos em segmentos, têm 6 patas (mais as pseudopatas carnudas do abdômen) e respiram por um sistema traqueal, que se comunica com o exterior por meio dos espiráculos. Os três primeiros segmentos após a cabeça formam o tórax, enquanto os próximos dez representam a região abdominal.

Muitas lagartas adotam cores semelhantes às do ambiente para se mimetizar com ele (crípse). Por outro lado, outras apresentam tons muito mais chamativos para dissuadir seus predadores, algo conhecido como aposematismo. Além disso, algumas espécies têm pelos com ferrão ou compostos químicos tóxicos como método de defesa definitivo.

As lagartas são vermiformes, mas, de acordo com as classificações, não seriam estritamente vermes.

 

As lagartas são vermes?

Agora que você já conhece as informações básicas relativas a ambos os termos, trazemos de volta a pergunta feita inicialmente: as lagartas são vermes? Embora seja verdade que o termo “verme” possa abranger todos os seres vermiformes vivos, em um sentido mais estrito pode-se dizer que elas não são vermes. Uma lagarta não é um platelminto, nem um anelídeo, nem um nematoide, e sim um inseto lepidóptero.

Talvez o integrante dessa lista mais próximo das larvas de borboleta sejam os anelídeos terrestres, mais conhecidos como “minhocas”. De qualquer modo, você deve se lembrar de que os anelídeos não têm patas como tais (algumas espécies têm parapódios ou prolongamentos, mas não são patas), enquanto as lagartas têm 6 membros bem definidos nos segmentos torácicos.

Além dessa diferença, também é necessário enfatizar que as minhocas são generalistas e detritívoras dos solos, enquanto as lagartas vivem das folhas das plantas e se alimentam exclusivamente de matéria vegetal (com poucas exceções). Enquanto um grupo se especializou em herbivoria, o outro é responsável pela decomposição da matéria orgânica.

As lagartas são invertebrados vermiformes, mas não devem ser classificadas como vermes por esse motivo. Elas não são anelídeos, platelmintos ou nematoides.

 

Lagartas ou vermes?

Considerações finais

Em última análise, é importante observar que, se você ouvir alguém se referir às lagartas como vermes, essa ideia também não estará totalmente errada. Como já dissemos, este último grupo é polifilético e, portanto, todos os seres vivos vermiformes podem fazer parte dele. Não é o mais correto, mas em seu sentido mais amplo é possível.

Se algo está claro para nós depois de mergulhar no mundo da taxonomia de invertebrados, é que os termos usados pela população geral são de pouca utilidade no mundo científico. Afinal, quando se trata de designar espécies e construir gêneros, famílias e ordens, a única coisa que importa é a relação genética dos membros, independentemente de sua forma externa ou aparência.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Mora, C., Tittensor, D. P., Adl, S., Simpson, A. G., & Worm, B. (2011). How many species are there on Earth and in the ocean?. PLoS biology, 9(8), e1001127.
  • Thollesson, M., & Norenburg, J. L. (2003). Ribbon worm relationships: a phylogeny of the phylum Nemertea. Proceedings of the Royal Society of London. Series B: Biological Sciences, 270(1513), 407-415.
  • De Ley, P. (2000). Lost in worm space: phylogeny and morphology as road maps to nematode diversity. Nematology, 2(1), 9-16.
  • Greene, E. (1989). A diet-induced developmental polymorphism in a caterpillar. Science, 243(4891), 643-646.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.